Texto da profa. Eliane Oliveira
Narração do texto por Eliane Oliveira: https://youtu.be/p1GJ7Ohdnd4
"Vou cair". É o que me dizem alunos novos, experimentando pela primeira vez as cordas do yoga Kurunta. Então, eu ouço o corpo. Tudo o que ele diz. Que sim e que não. Com muito carinho, cuidado e atenção. Quando ele diz que não, é não. Eu o acolho, como a uma criança (como também, por vezes, acolhi e acolho a mim mesma), e lhe digo (como, por vezes, me disse e me digo): "Calma, fica calmo, corpo. Está tudo bem. Faz só uma vez esse movimento. E, se der, faz duas, faz três. Quando der, faz cinco, faz dez. E, se não der, está tudo bem!". Ele confia. Aos poucos, confia. Em si mesmo. Finalmente se entrega, sem perceber que se entregou. Quando não confia e não se entrega (há vezes em que o medo de si toma profundezas não conhecidas), tudo bem também. Não há lugar nenhum a se chegar a não ser aqui e agora, a que não se chega: se é. Mergulhar no que se é, é o caminho. E, é disso que se precisa ter coragem. De mergulhar no que se é. Por outro lado, após o chamado à calma, preciso voltar às palavras do aluno. Não posso não enxergar a luz que dali irrompeu. É ouro. Ao que creio, aquilo que sabe dentro de nós, fala-nos nas entrelinhas. Inspira-nos (leva-nos para dentro) para depois expirar-nos (levar-nos para fora). Repito, então, o que me disseram e estimulo-os a ouvir de uma maneira mais simbólica a sua própria fala: “Vou cair”. Quanto simbolismo há inscrito no corpo! O corpo disse: "Vou cair". Quanto aprendizado ele nos ensina em sendo ele mesmo! Tememos cair, perder o controle, perder as forças, sair da linha, errar a dose, ter pouco para dar, dar muito sem limite, sentir dor, quebrar a cabeça, escorregar, dar de cara no chão, ficar pra trás, fazer errado, ser incompleto. Que olhos são esses que nos vigiam e nos punem numa enorme pressão de composturas? Isso é o que nos contrai em contraturas. Cair, perder, ruir, fracassar, machucar. Errar. Desalinhar. Exagerar. Indo assim, um dia, a panela vai estourar, se essa dor de andar em linha reta não se encurvar. Como é isso na sua vida? Então, do "vou cair", surgem variações mais divertidas. A gargalhada é uma delas. O corpo, posto em formas inesperadas, surpreende-se com a descarga energética acionada com o movimento de si mesmo. E ele ri. Ri espontaneamente. Só ri. Como se ali houvesse um riso esperando para ser rido, doido para manifestar o que foi calado e contido. Ele ri porque treme, porque sacode, porque desperta, vê e reconhece a presença de mais alguém além daquele "ego controlador" que pensava (temia e também, no fundo, queria) que “ia cair", “despedaçar-se”, “diminuir-se”, “ridicularizar-se”, "perder-se". O corpo balança. Que esquisito! Ele balança. A partir do riso e do estranhamento de si que não se conhecia, em geral, surge uma iluminação: “mesmo parecendo que vou cair, posso não cair", "e, se cair, o que é que tem cair?", "se cair, posso não me machucar", “se me machucar, não vou morrer”. Na sequencia, “ah, deixa eu cair!”. O corpo ri. Ri de como é preso. De como é medroso. De como é bobo. Ri de si mesmo. Diante da sua insegurança, agora sabe que é seguro. Ele ri, e eu rio junto. Rios juntos. 🕉️🙏Fluimos!
(Escrito em 24/08/19 e publicado em vídeo 29/04/21).
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Texto também publicado em:
https://www.suksma.com.br
http://uddiyanastudiodeyoga.blogspot.com/
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