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- Texto da profa Eliane Oliveira



Se você reparar, as respostas que procura estão por todo o seu corpo. O corpo inteiro pensa e responde. Não só a cabeça. O corpo inteiro sente e responde. Não só o coração. Seu dedinho mindinho do pé direito pensa, sente e responde. O seu estômago. Os seus pulmões. As unhas dos pés. Os seus olhos pensam, sentem e respondem.Tudo em você tem consciência, e isso não é uma metáfora. Você pode não ter consciência dessa consciência, mas ela existe e responde em naturezas, ritmos e tempos diferentes. Pensa e responde, às vezes, com fala, sorriso, choro e grito; outras vezes com silêncio, pausa e vazio. Às vezes, com dor, apatia, raiva, medo; outras, com prazer, envolvimento, serenidade, coragem. Às vezes, com preenchimento, outras vezes com falta. Às vezes, com clareza, outras com obscuridade. Às vezes, rapidamente, outras vezes lentamente, em parcelas, indo, estacionando e voltando. Enquanto acreditarmos que o pensamento mora na cabeça e o sentimento mora no coração, teremos respostas sempre insuficientes para nossas perguntas, porque cabeça e o coração são só duas partes de um todo com muitas partes, e pensamento e sentimento são funções que existem em todas as partes. Só encontraremos respostas inteiras se o princípio da pergunta for inteiro. Há coisas que sua cabeça não conseguirá explicar mesmo com todo esforço intelectual que você faça. Mas talvez seus braços e mãos consigam. Eles explicarão de um jeito próprio, sem fala, sem racionalidade e sem controle. Há emoções que você não conseguirá expressar com a palavra, com arte ou com ideias. Mas talvez seus pés e pernas consigam. Se você não permitir que eles lhe respondam do jeito deles e ficar forçando a cabeça a achar uma solução porque acredita que é só ela quem detém esse poder, chegará sempre ao limite dela, ficará dando voltas no mesmo ponto, cansando-se e frustrando-se por nunca encontrar o que procura. O que você procura só pode ser encontrado na integração. E a integração já é você. Só precisa olhar de outra maneira, vendo o conjunto e não as framentações. Se você aceitar a si mesmo inteiro, a vida será inteira.


Texto da profa. Eliane Oliveira (28/09/23)(lições do mar 02)

Homem gritando e saindo notas musicais
A Alquimia pela Raiva - Texto da profa. Eliane Oliveira


Ele estava furioso. Só explodia. Só gritava. Possuído. Cuspia. Espumava. Babava. Vomitava suas entranhas. Não dava uma pausa. Não dava uma trégua. Sua força mataria um. Era bom não chegar muito perto. Eu fiquei ali diante dele olhando para ele. Quieta. Perplexa. Imóvel. Não havia nada a fazer. O medo de que ele me quebrasse as costelas me tomou e só passou quando resolvi não entrar. Foi deste lugar, de fora e distante, que, de repente, achei-o bonito. Ele era escaldante. Suntuoso. Dramático. Extático. Quis tentar uma aproximação com a sua beleza. Peguei meu baldinho. Fui até a beirinha. Humildemente. Odoyá Iemanjá. Aguei a nuca e o ventre naquele ritual para situar o corpo à água. Mas, ele não quis saber de salamaleques nem de “finge-que-nada-está-acontecendo”, e empurrou minhas pernas, que até doeu. Não foi nada. Mas, veio novamente e, desta vez, deu-me uma rasteira que caí num caldo em plena beirinha. Como quem me dissesse “você ainda não entendeu nada”. Ele era pura contradição me chamando “vem” e me expulsando “vai”, sendo que, naquele dia pelo menos, no “vai”, eu podia tê-lo mais integro e me integrar a ele com mais integridade. Daí, foi um passo adiante e outro atrás, dançando em seu ritmo colérico, até conseguir banhar-me da turbulência em forma de calma dentro do balde. Um tiquinho da sua potência apreendida para me refrescar o corpo. Mas, ele lá. E eu aqui. Quieta. Distante. Não havia nada a fazer. Ele estava muito comprometido com sua obra e restava a mim participar dele apenas assistindo ao seu espetáculo de ressaca. Eu vi o que jamais podia ter visto se tivesse entrado: que “o mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito (Caymmi). ... A mãe sabia que os filhos uma hora sentiriam raiva. Disse-lhes: "quando vocês sentirem raiva, cantem bem alto." Estimulou-os a fazerem música, a aprenderem violão, pandeiro, piano. Dançar e gargalhar. Transmutar no coração a poderosa energia do fogo do ventre. O fogo pode ser destrutivo, mas também é digestivo. É ele quem transmuta o cobre em ouro. Alquimia. Inspiração divina. Entusiasmo. Da raiva, pode não sair violência. A raiva pode gerar beleza se estiver comprometida com arte. A raiva é uma força poderosa. Não podemos fingir-que-nada-está-acontecendo. Mas, podemos traduzi-la em samba, em dança, em canto. Quando você vir alguém com raiva, fique na praia. Mantenha distância, e talvez até possa apreciar qualquer beleza nisso (surpreenda-se). Se for você mesmo, não faça guerra. Faça música. E oferecerá ao mundo o seu bonito mar espumoso em ressaca.


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(lições do mar 01) - Texto da profa. Eliane Oliveira - 04/09/23



Pessoas mergulhando sob a onda gigante
Se entrar no mar, seja Mar - Texto da profa. Eliane Oliveira

Eu entrei no mar. Mares têm movimento. Mares são como a vida, que “vem em ondas” - já disse o poeta. Eu entrei no mar. As ondas eram daquelas caudalosas, robustas, com pouca espuma de arrebentação. Desfrutei das águas tipo lagoa por alguns segundos. Quando, de repente, lá atrás, eu vi se formando uma onda gigante. Nessa hora, não se pode ter dúvida: você tem que nadar rápido em direção à onda para dar tempo de furá-la ou de subir flutuando na montanha de água que está se formando, antes que ela se entorte e arrebente com força sobre você. É a regra da totalidade. O mar inteiro está se contraindo para se expandir na praia. Ele está concentrando forças. Ele é um coletivo. Ele é um todo. Ele chama para integração. Se você está dentro dele, deve se tornar um-com-ele. Se não quiser se tornar um-com-ele, não pode entrar no mar. É melhor ficar na beirinha da água com seu baldinho ou abrir a sua barraca na praia para ficar na areia. Ali, você estará seguro (supostamente) e não precisará obedecer à regra da totalidade do mar. Eu entrei no mar e lá vinha ela gigante com toda a força netuniana. Mas, tive dúvida. Não se pode ter dúvida nessa hora, repito. Por apenas um segundo, diante da onda que vinha, tive a dúvida se voltava para areia, aparentemente mais segura, ou se nadava em direção à onda, atirando-me à imensidão desconhecida e misteriosa do monstro de água a crescer. Naquele lugar, que não controlo, dá medo seguir as leis do dono da casa. Então, por medo, cedi à ilusão da estabilidade e tentei voltar para areia. Mas o refluxo das águas já me puxava pelas pernas, impedindo que eu corresse dentro d’água em direção à (minha) praia. O problema era que também já não dava mais tempo de nadar para a onda antes de ela torcer como boca e quebrar sobre minha cabeça. Já era. Caixote. Fui rodando dentro da água, comendo areia pelo caminho. O todo é imperativo. Se agirmos como água, sem resistências, fluiremos com ele. Dentro do mar, será preciso ser mar. Se entrar no mar, seja mar, e experimentará, antes da formação das ondas, o oceano sereno que ele guarda. Publicado em facebook: Facebook

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